segunda-feira, 4 de agosto de 2014

OS PEQUENOS BURGUESES
A influência dos movimentos burgueses nos condicionou a um “olhar torto” às coisas relacionadas ao movimento aristocrático. E esse, por sua vez, para a nossa sociedade "pequeno burguesa" é confundido com pedante, pretensioso, discriminatório. Por outro lado os vitoriosos valores burgueses que pautam o nosso comportamento moderno já se revelaram cheios de defeitos entre os quais poderíamos enumerar: o mau gosto em quase tudo; produção de música de quinta categoria; cinema enlatado; sanduiches de carne sintética feitos em série; o sonho de ter algo antes de ser alguém; relações descartáveis, etc.
O capitalista burguês nos trouxe a ilusão democrática de que somos todos iguais (oi?),ou melhor, nos impôs o imperativo categórico de que é proibido pensar em discriminar, e carrega ostensivamente essa bandeira da igualdade entre os homens como sua conquista mais gloriosa. Somos tentados, por senso de justiça ou simples compensação matemática, a desconfiar de que a velha e quase falecida aristocracia, em meio a todos os seus defeitos que são execrados pela sociedade, tinha lá os seus acertos. Um deles, com certeza, era a capacidade de transmitir valores sociais de forma hereditária. Quando vemos um pseudo cidadão invadindo um sinal em frente a uma escola e ameaçando a segurança das crianças que ali atravessam a rua, ou outro com o som ligado em volume máximo com sua pretensa música de gosto extremamente duvidoso constrangendo plateias avessas àquele estilo musical a ouvi-la sem escolha, ou quando observamos os administradores públicos ou ate mesmo privados metendo a mão naquilo que não é seu de direito, mas sim que serviriam ao benefício coletivo, o médico que pensa em ganhar antes de salvar, no advogado que aprende as leis para iludir suas vítimas incautas e não para defendê-las, nos magistrados dos Supremos Tribunais que mandam soltar da prisão seus amigos ladrões, enquanto a população é “entretida”, e uma infinidade de outras formas de comportamento que se tornaram padrão, nos perguntamos: quais a origem dessa gente que age de forma tão pouco enobrecedora? A resposta é fácil: no meio desse povo tosco, de mentalidade limitada e visão turva, que não sabe que quando leva vantagem ilícita prejudica a si mesmo indiretamente, que não compreende os intrincados processos de equilíbrio de uma vida em sociedade pois só vislumbra os próprios interesses, que nem imagina que quando acumula inutilmente, algo vai faltar pra alguém que mais cedo ou mais tarde virá bater em sua porta em desespero, que enaltece ídolos fúteis travestidos de popstars e esquece de apoiar os verdadeiros heróis do povo que labutam em silêncio, descobrimos, que, no meio desse povo, tem gente que não sabe quem é o pai, quanto mais o bisavô e muito menos a que veio. Cada um que nasce no seio dessa gente tem que começar tudo de novo. Nada lhes interessou da herança dos seus antepassados a não ser o que tinha algum valor material. Mais do que burgueses medíocres, são plebeus do espírito, que nunca vão fazer dessa sociedade um lugar melhor.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Medo de anão
E aquele político que faz promessas cínicas e impossíveis de realizar que qualquer intelecto com um mínimo de discernimento identifica como mentirosas? E daquele outro que se mostra um ignorante completo em relação às coisas mínimas que se deve esperar de um gestor, como, por exemplo, o conhecimento básico da língua portuguesa? Pois é assim que se comportam os candidatos a cargos políticos no Brasil.

Independente do cargo que almejam, sempre se apegam em comentários pífios sobre os supostos defeitos dos adversários, geralmente associados à algum conceito moralista barato e inconsistente, que o próprio denunciante muitas vezes também transgride. Em alguns casos a maledicência chega ao extremo de atacar a vida íntima do oponente só para vê-lo julgado e condenado pela massa estúpida e moralista, que no final das contas decide o destino do país. A competência e capacidade de gestão do postulante ao cargo acaba virando um pano de fundo com importância secundária, ou até mesmo sem importância. É mesmo difícil enxergá-la em meio a tanta degradação de comportamento.

Esse modelo tosco acaba tendo uma certa "eficiência mórbida" porque existe uma quantidade imensa de eleitores tacanhos que não votam se o sujeito tem um filho fora do casamento, ou se a candidata tem preferência por parceiros do mesmo sexo, ou pela sua religião, ou ainda se o indivíduo fumou esse ou aquele cigarro na juventude. Isso prova, de maneira simples que candidatos têm os eleitores que merecem. Hoje, nessa sociedade medonha não se vê a grandeza do estilo, postura, a superioridade ética, valores, em que o sujeito despreza as picuinhas e assume uma postura afirmativa e pautada exclusivamente pela utilidade prática dos argumentos. Em seus discursos, esses anões da dignidade acabam deixando bem claro que são meros oportunistas, movidos sabe-se lá por que motivações sombrias e tortuosas, rumo a um poder que, se por acaso conquistarem, certamente farão péssimo uso.

O mais coerente, e utópico, seria que fossemos representados pelos melhores dentre nós. Mas aí cabe uma reflexão: sendo nós quem somos (e eu falo da maioria) até que não estamos muito longe desse resultado. Cidadãos de quinta categoria, que urinam nos postes, invadem os sinais, lombadas, desrespeitam as minorias, destroem os bens públicos, se apegam ao material e à imagem, sabotam os próprios trabalhos em nome da preguiça e aceitam qualquer trocado pra se desviar da conduta adequada, devem ser governados por quem? Um homem bem intencionado e capaz estaria disposto a fazer esse sacrifício? Que chances teria? As chamadas "forças contrárias", interessadas na manutenção do modelo atual perpétuo e decadente o deixariam governar? Mudar os governantes talvez não resolva, talvez seja preciso mudar o...

terça-feira, 29 de julho de 2014

Xenofobia
Você vai dizer que é complexo de inferioridade de nordestino. Mas quando se trata de distribuir o que há de melhor nesse país, quem mora da Bahia pra cima acaba ficando em desvantagem. As redes de televisão nacionais deixam isso bem explícito em sua programação: você não mora em São Paulo mas fica sabendo imediatamente se a Marginal Tietê estiver engarrafada. Helicópteros sobrevoam mandando imagens ao vivo e o reporterzinho se desdobra para explicar os detalhes de mais um infernal fim de tarde na grande metrópole. E o sujeito lá de Teresina se pergunta porque ele é obrigado a saber aquilo, com tanta coisa mais importante acontecendo onde ele mora. Há os sem senso crítico que acreditam que aquelas imagens mostradas na TV fazem parte da vida real, do mundo onde as coisas acontecem, e que ele, pobre piauiense, vive em uma espécie de universo paralelo, esquecido pelas pessoas de verdade (que certamente moram em São Paulo), condenado ao esquecimento. A chamada na televisão da partida de futebol entre o Treze de Campina Grande e o glorioso Palmeiras, como ficaria? - "O verdão vai à Paraíba pra tentar conquistar a vaga nas semifinais..." - Quem é o adversário do verdão? Isso você só vai ficar sabendo na hora do jogo. Esteja certo também, que no instante dos comentários a respeito da partida, o comentarista de plantão vai dizer tudo que o técnico do Palmeiras precisa fazer pra ganhar, esquecendo completamente que do outro lado estão pessoas com o mesmo objetivo e, embora não fique claro, com os mesmos direitos.
Uma rede de televisão é uma concessão pública. O canal é nosso, do povo brasileiro, e o direito de uso é cedido temporariamente a alguém. Pelo menos é assim que está no papel. Na verdade não existe a TV da família Marinho, ou a TV do Silvio Santos.
Essa gente usa (e abusa) de um direito que é nosso e faz o que quer com isso. Com suas comunicações tortas e manipuladoras eles estão entre os principais responsáveis por esse Brasil que nós vivemos. Eu quero ouvir na TV: "O Treze de Campina Grande e o Palmeiras de São Paulo se enfrentam na disputa por uma vaga na semifinal".
Nada muda. Também pudera: como vai mudar se ninguém reclama? É mais fácil para o paraibano torcer para o Flamengo a lutar pra ver o Treze nas cabeças. Não sejamos xenófobos e é bom ficar de olho aberto. Na estatística das sacanagens brasileiras, já nos passaram a mão na bunda várias vezes e nós ainda não comemos ninguém.
Pessoas óbvias
Monótonas são as pessoas óbvias. As que você olha e enxerga tudo. Feliz de quem decifra sinais só nas entrelinhas, nos sentidos não revelados, no gesto que ficou no ar, na palavra interrompida, na pergunta aparentemente inocente que esconde o verdadeiro objetivo, no olhar que se distrai fixo no objeto que deseja e fica sem graça quando é pego em flagrante. No braço supostamente despretensioso em torno do ombro, no excesso de zelo, na descoberta de uma sequência infinita de gostos comuns, na falta de coragem de dizer pra aquele alguém aquilo que você diria com a maior facilidade para qualquer outra pessoa. Na letra da música que fala por você, na ausência estudada pra chamar a atenção: Freud diz que tudo que é dito não é tudo, a maior parte fica subentendida.
Primeiro a gente sente a vontade e depois decide o que fazer com ela. É por isso que não existem fatos morais, somente julgamentos morais. A autoconfiança (segurança) é a meta da consciência, a liberdade é o anseio do instinto... talvez juntos venham a formar um par perfeito. Está achando essa conversa estranha? Não era mesmo pra você entender! Se isso bate com alguma coisa que você já viu e ouviu, ou sentiu em algum lugar, é isso mesmo que você está pensando e só nós vamos entender... No mais é só deixar acontecer... Mas... pelo sim pelo não, é sempre bom dar uma forcinha ao destino.
Àqueles acomodados que ocupam espaço neste planetinha miserável. Que mal sabem a que vieram. Que se calam diante de uma injustiça com medo de aumentar o problema e fazem com que o problema do mundo inteiro aumente por falta de reações, porque se calam. Que chamam os valentes de malucos e indiscretos e defendem os covardes pra aumentar a força do grupo do qual fazem parte. Que se submetem a prisões, pressões e opressões absurdas pelo prazer de seguir o caminho mais fácil. Que não correm atrás de suas paixões porque têm medo de sofrer ou ser enganadas. Os que não questionam os valores morais porque se sentem muito abaixo deles. Os que falam mal de quem se arrisca e quando ficam velhas se arrependem do que não fizeram. Enfim, àqueles que ficam quietinhos roendo as unhas esperando que tudo funcione e dê certo por si só.
Vocês podem não ser os melhores entre nós, mas são a maioria.